Não é fácil explicar/descrever,
o impacto e os ciclos de um processo tão complicado e longo quanto a Laringectomia
Total. Em outros tipos de câncer tudo parece mais simples, pois uma vez curado,
se curável, não precisa de um período de adaptação e de aprendizado, como no
nosso caso.
Cada doença
tem as suas conseqüências, suas especificidades, logo cada paciente têm suas
próprias peculiaridades e dificuldades, que o torna muito difícil de comparar e
simplificar.
Baseado na
minha experiência, eu passei por cinco (5) ciclos ou estágios, desde a primeira
noticia de um provável câncer à superação do câncer e de adaptação à nova vida.
O primeiro
período começou quando recebi o resultado de uma Tomografia Computadorizada e fui
comunicado que era bem provável que eu estivesse com um câncer de laringe
A etapa
seguinte foi quando acordei da cirurgia sem voz e respirando por um orifício na
região da traqueia, o traqueostoma. Após
a cirurgia, ficamos em uma encruzilhada difícil de descrever. Por um lado, a
falta de voz e a forma de respirar totalmente alterada, e por outro estarmos
vivos e com a grande esperança de estarmos curados, pois a taxa de sucesso é de
quase 100%, podendo nos mover com uma certa facilidade e se não houver
problemas, ganhando alta e voltando para casa em poucos dias, com um certo
otimismo para iniciarmos uma nova vida.
A terceira etapa é o retorno para casa, pois a imagem
corporal do Laringectomizado é radicalmente alterada pela cirurgia. A presença
do traqueostoma, o afundamento do pescoço e a perda da voz, tem grande impacto
na imagem corporal e na capacidade de estabelecer relação social. A perda da
VOZ, a alteração da aparência física e as limitações funcionais que acontecem
após uma cirurgia deste tipo, que pode constituir em uma ameaça à autoestima do
indivíduo, à sua identidade e, em especial, à forma de viver e de se relacionar
com o mundo.
Também entendo, que nesta etapa está a expectativa do início
das seções de Radioterapia, pois são grandes os comentários sobre os efeitos
colaterais. No meu caso, foram trinta (30) aplicação durante o período de
24.09.2012 a 06.11.2012, e houve efeitos colaterais, que já foram quase todos
superados.
A quarta etapa é a expectativa em saber, se após a
cirurgia e as aplicações de Radioterapia, como estamos em relação ao câncer. No
meu caso, após as Radioterapias em 20 de fevereiro de 2013, fiz uma Tomografia
Computadorizada de pescoço e tórax e em 08 de julho de 2013, um ano após a
cirurgia, fiz uma Videolaringoscopia e um exame no “traqueostoma”, exames
realizados pelo Dr. MARCLEI BRITES LUZARDO, cirurgião de Cabeça e
Pescoço, que me operou.
Eu
até agora só havia falado no Cirurgião ou Médico que me operou, pois ainda não
havia pedido permissão para citar o seu nome em meus relatos, o que fiz nesta
consulta, tendo recebido a sua autorização. Quero dizer também, que se trata de
um grande profissional, da CliniOnco- Tratamento
Integrado do Câncer, rua Dona Laura, 226 Moinhos de
Vento em Porto Alegre /RS.
Mas
a grande noticia que recebi do Dr. Marclei é que está tudo muito bem e eu devo
retornar para um novo exame só em julho de 2014, quando estiver completando dois(2)
anos da cirurgia.
A etapa seguinte começa quando podemos nos comunicar,
pois a fala desempenha papel fundamental na comunicação humana, e em
determinados momentos, por circunstâncias adversas, a perda da capacidade de
falar nos impõe a procurar resolver essa limitação. A comunicação pode ser
feita através da voz esofágica, voz traqueoesofágica ou por meio da
eletrolaringe ou laringe eletrônica .
A VOZ ESOFÁGICA
é conseguida através da
deglutição incompleta de ar (apenas até ao esôfago), e de sua expulsão em
seguida modelando o ar em sons pelo movimento coordenado da boca e língua, essa
técnica implica em várias etapas como a independência da fonação e da
respiração. É preciso aprender a sincronizar a fonação com a deglutição do ar e
não com a respiração como era antes da cirurgia, saber controlar a ansiedade e
de um treinamento persistente e intensivo após a cirurgia. Posso afirmar que
esse processo deve ser orientado e acompanhado por um Fonoaudiólogo
A VOZ TRAQUEOESOFÁGICA é conseguida após a implantação
de uma prótese traqueo-esofágica, que permite a passagem de ar dos pulmões para
o esófago podendo este, posteriormente ser modelado em sons pelo movimento coordenado
da boca e língua. A desvantagem é que geralmente a prótese tem vida útil muito
curta.
A ELETROLARINGE OU LARINGE
ELETRÔNICA é um amplificador movido a
bateria ou pilha que é colocado junto da região submentoniana ou na porção
mediana do pescoço e emite ondas vibratórias que são modelados em sons pelo
movimento coordenado da boca e língua. O som originado por estes aparelhos tem
uma percepção pelos interlocutores como “artificial” (voz de robô), esta
solução e mais usada por Laringectomizados que não conseguem aprender nenhuma
das outras técnicas de reabilitação de voz.
Na semana que antecedeu a cirurgia pesquisei muito sobre as formas
de comunicação, caso tivesse que fazer
uma Laringectomia Total e 26 dias após a cirurgia tive a primeira
consulta com a Fonoaudióloga Márcia Santana, passando a ter orientações dos exercícios a serem feitos, e
também, com a Fonoaudióloga Vera Martins.
Na oportunidade em que fiz o exame
com o Dr. Marclei, discutimos as vantagens e desvantagens da colocação ou não
de uma prótese de voz, chegamos à conclusão que eu continuaria procurando
aprimorar a minha voz esofágica, (voz, que pode ser vista no vídeo que
publiquei no dia 29 de agosto de 2013).
Eu, hoje já estou falando ao
telefone, no entanto, isso só ocorre com os meus familiares ou pessoas que
sabem que sou um Laringectomizado Total, se a ligação é de uma pessoa estranha
a situação é bem difícil para não dizer quase impossível, pois quando não desligam
acham que eu estou brincando, não é por isso que vamos desistir, ao contrario,
continuo procurando melhorar cada vez mais a minha voz esofágica.
Osório José Amandio