sábado, 28 de setembro de 2013

O IMPACTO DA LARINGECTOMIA TOTAL



            Não é fácil explicar/descrever, o impacto e os ciclos de um processo tão complicado e longo quanto a Laringectomia Total. Em outros tipos de câncer tudo parece mais simples, pois uma vez curado, se curável, não precisa de um período de adaptação e de aprendizado, como no nosso caso.

            Cada doença tem as suas conseqüências, suas especificidades, logo cada paciente têm suas próprias peculiaridades e dificuldades, que o torna muito difícil de comparar e simplificar.

            Baseado na minha experiência, eu passei por cinco (5) ciclos ou estágios, desde a primeira noticia de um provável câncer à superação do câncer e de adaptação à nova vida.

                O primeiro período começou quando recebi o resultado de uma Tomografia Computadorizada e fui comunicado que era bem provável que eu estivesse com um câncer de laringe

            A etapa seguinte foi quando acordei da cirurgia sem voz e respirando por um orifício na região da traqueia, o traqueostoma. Após a cirurgia, ficamos em uma encruzilhada difícil de descrever. Por um lado, a falta de voz e a forma de respirar totalmente alterada, e por outro estarmos vivos e com a grande esperança de estarmos curados, pois a taxa de sucesso é de quase 100%, podendo nos mover com uma certa facilidade e se não houver problemas, ganhando alta e voltando para casa em poucos dias, com um certo otimismo para iniciarmos uma nova vida.

            A terceira etapa é o retorno para casa, pois a imagem corporal do Laringectomizado é radicalmente alterada pela cirurgia. A presença do traqueostoma, o afundamento do pescoço e a perda da voz, tem grande impacto na imagem corporal e na capacidade de estabelecer relação social. A perda da VOZ, a alteração da aparência física e as limitações funcionais que acontecem após uma cirurgia deste tipo, que pode constituir em uma ameaça à autoestima do indivíduo, à sua identidade e, em especial, à forma de viver e de se relacionar com o mundo.
            Também entendo, que nesta etapa está a expectativa do início das seções de Radioterapia, pois são grandes os comentários sobre os efeitos colaterais. No meu caso, foram trinta (30) aplicação durante o período de 24.09.2012 a 06.11.2012, e houve efeitos colaterais, que já foram quase todos superados.

                    A quarta etapa é a expectativa em saber, se após a cirurgia e as aplicações de Radioterapia, como estamos em relação ao câncer. No meu caso, após as Radioterapias em 20 de fevereiro de 2013, fiz uma Tomografia Computadorizada de pescoço e tórax e em 08 de julho de 2013, um ano após a cirurgia, fiz uma Videolaringoscopia e um exame no “traqueostoma”, exames realizados pelo Dr. MARCLEI BRITES LUZARDO, cirurgião de Cabeça e Pescoço, que me operou.
         Eu até agora só havia falado no Cirurgião ou Médico que me operou, pois ainda não havia pedido permissão para citar o seu nome em meus relatos, o que fiz nesta consulta, tendo recebido a sua autorização. Quero dizer também, que se trata de um grande profissional, da CliniOnco- Tratamento Integrado do Câncer, rua Dona Laura, 226 Moinhos de Vento em Porto Alegre/RS.
          Mas a grande noticia que recebi do Dr. Marclei é que está tudo muito bem e eu devo retornar para um novo exame só em julho de 2014, quando estiver completando dois(2) anos da cirurgia.

            A etapa seguinte começa quando podemos nos comunicar, pois a fala desempenha papel fundamental na comunicação humana, e em determinados momentos, por circunstâncias adversas, a perda da capacidade de falar nos impõe a procurar resolver essa limitação. A comunicação pode ser feita através da voz esofágica, voz traqueoesofágica ou por meio da eletrolaringe ou laringe eletrônica .

                 A VOZ ESOFÁGICA é conseguida através da deglutição incompleta de ar (apenas até ao esôfago), e de sua expulsão em seguida modelando o ar em sons pelo movimento coordenado da boca e língua, essa técnica implica em várias etapas como a independência da fonação e da respiração. É preciso aprender a sincronizar a fonação com a deglutição do ar e não com a respiração como era antes da cirurgia, saber controlar a ansiedade e de um treinamento persistente e intensivo após a cirurgia. Posso afirmar que esse processo deve ser orientado e acompanhado por um Fonoaudiólogo

           A VOZ TRAQUEOESOFÁGICA é conseguida após a implantação de uma prótese traqueo-esofágica, que permite a passagem de ar dos pulmões para o esófago podendo este, posteriormente ser modelado em sons pelo movimento coordenado da boca e língua. A desvantagem é que geralmente a prótese tem vida útil muito curta.


                        A ELETROLARINGE OU LARINGE ELETRÔNICA é um amplificador movido a bateria ou pilha que é colocado junto da região submentoniana ou na porção mediana do pescoço e emite ondas vibratórias que são modelados em sons pelo movimento coordenado da boca e língua. O som originado por estes aparelhos tem uma percepção pelos interlocutores como “artificial” (voz de robô), esta solução e mais usada por Laringectomizados que não conseguem aprender nenhuma das outras técnicas de reabilitação de voz.

               Na semana que antecedeu a cirurgia pesquisei muito sobre as formas de comunicação, caso  tivesse que fazer uma Laringectomia Total e 26 dias após a cirurgia tive a primeira consulta com a Fonoaudióloga rcia Santana, passando a ter  orientações dos exercícios a serem feitos, e também, com a Fonoaudióloga Vera Martins.

                             Na oportunidade em que fiz o exame com o Dr. Marclei, discutimos as vantagens e desvantagens da colocação ou não de uma prótese de voz, chegamos à conclusão que eu continuaria procurando aprimorar a minha voz esofágica, (voz, que pode ser vista no vídeo que publiquei no dia 29 de agosto de 2013).

                            Eu, hoje já estou falando ao telefone, no entanto, isso só ocorre com os meus familiares ou pessoas que sabem que sou um Laringectomizado Total, se a ligação é de uma pessoa estranha a situação é bem difícil para não dizer quase impossível, pois quando não desligam acham que eu estou brincando, não é por isso que vamos desistir, ao contrario, continuo procurando melhorar cada vez mais a minha voz esofágica.

                                           Osório José Amandio     

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

'EU E O GALA" - Relato do colega EGYDIO FERREIRA.




     
         Este é um depoimento do colega EGYDIO FERREIRA, que também é um Laringectomizado Total e participa das reuniões do Grupo de Apoio ao Laringectomizado “GALA”, no Hospital Santa Rita em Porto Alegre/RS.
         


                 



                                                     EU E O GALA

                                         
     Minha cirurgia aconteceu diante há um fato interessante, e que contribuiu para que eu a recebesse sem grandes choques.
      Após vários exames foi constatado que eu tinha um tumor do tamanho equivalente ao de um grão de arroz, e que a cirurgia seria simples, talvez com raio laser, o procedimento seria rápido.
     A verdade foi outra: a biópsia acusou um tumor maligno e o procedimento foi outro. Só tomei conhecimento na maca, a caminho da sala de cirurgia quando antes de “apagar”, ouvi o médico falar, “ele vai ter que conviver com isso”.
    Quando acordei no quarto, tranqüilo sem dor, sem me apavorar, parece que esperava aquilo. Adaptei-me logo a situação, todo entubado, sonolento, mas parecendo normal o tratamento, só um pouco de tristeza na hora de falar.
      Durante os primeiros dias proibi visitas, só a esposa que ficava sempre comigo e as filhas. Não fiz nem rádio nem quimioterapia.
      Após a cirurgia levei uns dois anos, até chegar ao Gala, indicado pelo meu médico. Em curto período já estava acostumado e feliz no grupo, pois encontrei, além do pessoal no grupo em atendimento, a turma que monitora também me recebeu muito bem facilitando meu entrosamento.
     Quando já estava em um estágio adiantado, já articulando algumas palavras, fui acometido de uma forte infecção pulmonar que me afastou do grupo por mais de um ano. Neste período de afastamento fiquei debilitado e deprimido. Pois eram só tratamento e remédios sentindo ainda estar afastado da turma.
      Com tratamento médico e apoio dos familiares melhorei a saúde, voltei ao convívio do Gala, já com novos colegas. Já faço alguns trabalhos domésticos e no clube de futebol onde sou diretor de esportes.
     Como eu tinha em mente não usar aparelho (eletrolaringe) para eu me dedicar ao treinamento, fui apoiado por minha família, inclusive meus irmãos que periodicamente se reúnem comigo e conseguimos nos comunicar perfeitamente evitando os gestos.
     Não dá para negar que já espero ansioso por quarta-feira para o encontro com os amigos para, além de treinamento, trocar ensinamentos com os novatos para incentivá-los e apoiá-los como fomos apoiados.
    Fica impossível individualizar alguma das profissionais por isso; Obrigado a toda turma.

                                               Egydio Ferreira




       Você que esta visitando este BLOG e é um Laringectomizado, e gostaria de nos relatar a sua experiencia para que fosse publicada, pedimos que envie o seu relato e uma foto, através do Email: osorioja@via-rs.net ou osoriojamandio@gmail.com .